Vocês já perceberam que raramente sentimos nossos órgãos? Sabemos que temos rins, fígado, pâncreas, intestinos, pulmões, vesícula, etc, mas se tudo vai bem nem nos damos conta de que eles estão ali, trabalhando para que estejamos saudáveis. Mas se algo vai mal... Aí vem a dor, e lembramos que temos aquele órgão.
Penso que com as pessoas acontece algo parecido, temos familiares e amigos que moram longe, ou que moram perto mas não vemos muito, não falamos todos os dias, a rotina não nos permite estar próximos, ligar, visitar, sair, checar se a pessoa está bem, usamos inconscientemente a regra dos órgãos, se tá quietinho tá tudo bem.
Até que um dia não esteja. Até que um dia percamos esta pessoa, porque ela estava com dor e não sabíamos... Ora como saberíamos? Ela não disse nada, não postou nas redes sociais. Mas o fato é que agora que essa pessoa se foi a falta dela começa a se fazer mais presente. Começamos a lembrar dos momentos vividos, da distância, tentamos nos lembrar da última vez que falamos com ela e porque deixamos de falar com mais frequência...
A depressão é uma doença que tem ganhado cada vez mais visibilidade, devido especialmente pelo poder de incapacitar um indivíduo e em casos piores levá-lo ao suicídio. Apesar dessa maior visibilidade as doenças psíquicas ainda carregam um estereótipo negativo, existe muita desinformação e preconceito, o que termina por fazer com que as pessoas depressivas não se abram, não se exponham, muitas vezes que não procurem ajuda. Querem ser fortes, e veem a depressão como uma doença para fracos. Ora, fulana está com câncer terminal, cicrano perdeu a mulher e filhos, pessoas passam fome nas ruas, eu tenho tudo, não tenho motivos para estar com depressão, isso é bobagem, posso perder meu emprego, ninguém vai querer se relacionar comigo.
A grosso modo é assim que a sociedade enxerga a depressão e demais doenças psíquicas. E é esta mesma visão que têm ceifado vidas, cedo demais... E aí, nós que não tínhamos tempo e disponibilidade para aquela pessoa enquanto ela estava viva e tinha alguma chance começamos a pensar nela, a dar o espaço a ela em nossas vidas que ela precisava enquanto estava viva.
É uma reflexão dolorosa, mas talvez você ainda tenha tempo de se reaproximar daquele seu amigo pâncreas, daquele seu colega de trabalho vesícula, daqueles primos rins, daqueles que você quer bem, mas não põe seu tempo e ouvidos à disposição. Nem sempre é tarde, e se for, antes tarde do que nunca...
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